Cerâmica é um dos hobbies mais praticados por adolescentes para se desconectar
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Recentemente, a Universidade de Birmingham, na Inglaterra, realizou um dos primeiros estudos com a intenção de avaliar o impacto da proibição dos celulares nas escolas. Desenvolvida tanto em instituições que proíbem o uso dos aparelhos quanto nas que permitem, a pesquisa indicou que não houve diferença nem na saúde mental nem no desempenho escolar entre os alunos dos dois grupos.
Isso poderia significar que a presença dos celulares nas escolas não faz diferença, mas o estudo observou que o maior tempo de uso de celulares pode estar associado a efeitos negativos na saúde mental e no desempenho acadêmico dos estudantes. Os pesquisadores destacaram que intervenções para reduzir o tempo de tela podem ser benéficas, mas que é necessário considerar o uso dos aparelhos em todos os contextos da vida, dentro e fora da escola. Além disso, alunos de escolas que proíbem os celulares relataram menos casos de bullying e maior desenvolvimento de habilidades sociais.
Especialistas e educadores apresentam visões distintas sobre o tema. Rodrigo Nejm, do Instituto Alana, acredita que restringir o uso pode melhorar a interação social e a atenção dos alunos durante as aulas, uma vez que redes sociais e jogos são desenhados para capturar a atenção, o que pode ser prejudicial para adolescentes em fase de desenvolvimento. Já a professora Débora Garofalo, que ficou entre os dez colocados do Global Teacher Prize, defende o uso consciente dos celulares, destacando que eles podem ser aliados na inclusão digital, especialmente em escolas públicas com poucos recursos. Para ela, a proibição pode ser um ponto de partida, mas não deve ser encarada como solução definitiva.
Foco nas habilidades
Nos últimos anos, tem crescido entre adolescentes e jovens adultos a busca por hobbies analógicos, como crochê, cerâmica, pintura e palavras cruzadas, numa tentativa de reduzir o tempo gasto diante das telas. Esses passatempos manuais têm promovido não só momentos de concentração e relaxamento, como também oportunidades de socialização fora do mundo digital.
Dados mostram aumentos expressivos nas buscas por itens ligados ao crochê, à cerâmica e à pintura, especialmente entre os menores de 17 anos. Oficinas e aulas presenciais também refletem essa tendência. Ceramistas e lojistas notam a presença crescente de adolescentes nas atividades manuais, incentivados muitas vezes pelos pais como uma alternativa saudável ao excesso de telas. O envolvimento com esses hobbies, além de desenvolver habilidades motoras e criativas, impede o uso simultâneo de dispositivos eletrônicos, promovendo uma desconexão durante o processo de criação.
Especialistas apontam que o movimento em direção aos hobbies analógicos está diretamente ligado à necessidade de diminuição dos níveis de estresse e ansiedade entre os jovens. A professora Katia Nahum, da PUC-Rio, destaca que o excesso de estímulos digitais pode gerar sobrecarga emocional, enquanto práticas manuais oferecem um ritmo mais contemplativo e saudável. Assim, o interesse crescente por passatempos como crochê ou palavras cruzadas representa mais do que uma moda: é um sinal da necessidade de equilíbrio e bem-estar numa geração marcada pela hiperconectividade.
Glossário
Analógico: O que não depende de nenhuma tecnologia eletrônica para funcionar.
Fontes: BBC News Brasil e O Globo
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