Vista aérea registra, no lado direito da imagem, a pilha de lixo que desmoronou, em Padre Bernardo, em junho de 2025
Semad
O desmoronamento do lixão Ouro Verde, ocorrido em junho deste ano no município de Padre Bernardo (GO), provocou uma grave tragédia ambiental. Toneladas de resíduos sólidos e chorume atingiram cursos de água, sobretudo o córrego Santa Bárbara e o Rio do Sal, que foram completamente contaminados, comprometendo a qualidade da água e impactando gravemente o meio ambiente.
De acordo com o governo de Goiás, a quantidade de resíduos despejada equivale a cerca de 16 piscinas olímpicas. Diante da gravidade, a Secretaria de Meio Ambiente proibiu o uso da água de três mananciais que abastecem comunidades rurais. A situação foi descrita como uma das mais impactantes já presenciadas na região, levando as autoridades a classificarem o episódio como “a maior tragédia ambiental do estado desde o desastre com o césio-137”, ocorrido em 1987, em Goiânia.
A comparação feita por Fábio Miranda, chefe da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio Descoberto, vinculada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ressalta que o episódio apresenta alto potencial de contaminação do solo, da água e das espécies da fauna e flora locais e os impactos ambientais causados podem levar décadas para serem completamente revertidos.
O Aterro Sanitário Ouro Verde, responsável pela gestão do lixão, vem sendo duramente criticado pela negligência diante dos riscos ambientais e sociais provocados por sua operação irregular.
De acordo com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a empresa operava sem licenciamento ambiental válido e demorou a tomar medidas emergenciais mesmo após o colapso da pilha de resíduos.
Em razão disso, foi multada em R$ 37,5 milhões e teve R$ 10 milhões bloqueados pela Justiça para garantir ações de contenção e recuperação ambiental. Trata-se da maior penalidade já aplicada em Goiás por crime ambiental relacionado ao descarte de resíduos sólidos.
Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi proposto para formalizar os compromissos com prazos e medidas obrigatórias e com ação rápida e eficaz da empresa, que deve arcar integralmente com os danos provocados pela sua atuação ilegal.
Em resposta ao desastre, o governo estadual deu início a uma força-tarefa para conter os danos ambientais, realizar o monitoramento da qualidade da água e elaborar um plano de recuperação da área. O impacto sobre os ecossistemas locais e sobre a saúde humana ainda está sendo avaliado, e os resultados devem nortear futuras medidas de responsabilização.
CÉSIO-137
Em 1987, Goiânia foi palco do maior acidente radiológico do mundo, causado pela retirada indevida de uma cápsula contendo césio-137 – uma forma do elemento químico césio que emite radiação –, de um aparelho de radioterapia abandonado.
O manuseio incorreto desse material radioativo por catadores de lixo e sua venda a um ferro-velho resultaram na contaminação de centenas de pessoas. O acidente trouxe graves consequências à saúde pública e mobilizou esforços para a prevenção e o controle de fontes radioativas no Brasil.
Glossário
Chorume: Líquido altamente tóxico e com odor forte, gerado pela decomposição de matéria orgânica.
Mananciais: Lugares de onde sai a água natural, como nascentes, rios e lagos.
Fontes: G1 e Governo de Goiás.
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